Uma viagem.

escreversonhar

Finalmente, depois de muitas tentativas para o retirar de casa, fizemos as malas e partimos rumo ao desconhecido.

Sem programa definido pois a caravana tinha tudo o que necessitávamos, partimos.

Adoramos passear sem rumo, partir á descoberta, ir onde a estrada nos levar, comer onde nos chegar a vontade e, sobretudo, absorver tudo o que nos rodeia. Parar na berma para trocar um beijo e uma carícia ou para conversar sobre o que nos der na real gana.

A estrada estava pouco movimentada o que nos proporcionou tempo e descontração para observar as paisagens. Foi um prazer desfrutar de vistas de cortar a respiração, respirar ar puro e sobretudo estarmos sós sem condicionantes.

Ao almoço desgostámos umas migas de cogumelos, simplesmente deliciosas, e ao jantar um cabrito assado no forno que fazia crescer água na boca. Cansados decidimos escolher um recanto paradisíaco, longe de olhares e ouvidos curiosos e indesejáveis…

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Minha querida caneta.

Minha querida caneta.

Não sei que me deu quando resolvi abrir a gaveta.

No fundo, um pouco esquecida repousava uma das minhas canetas.

Coitada, com o tempo foi substituída por várias esferográficas.

Linda, elegante e muito artística, parecia sorrir pedindo para ser usada.

Tinha sede e ao tinteiro a levei a beber.

Agradecida acariciou a minha mão e segredou ao meu ouvido:

Vamos passear no teu esquecido caderno.

Convite aceite. Há tanto tempo que nele não escrevia.

Na folha em branco letras lindas surgiram.

Lindas letras artisticamente desenhadas.

As palavras sucederam-se num ritmo em crescendo,

As linhas ganharam vida e sorriram enquanto o aparo bailava.

E a caneta escrevia sobre o sol que nascia,

Sobre as folhas que esvoaçavam, sobre o riacho que corria.

Descrevia as gargalhadas das crianças, o trinar dos pássaros,

O zumbido das abelhas e o murmurar das searas.

Escreveu sobre os amantes que se beijavam,

Sobre as carícias que trocavam e nos orgasmos que gritavam.

Segredou-me as mensagens que o vento lhe contou…

Pediu-me segredo sobre as confissões dos amantes,

Sobre traquinices das crianças e sobre todos os beijos roubados.

Relatou-me viagens fantásticas, paisagens exuberantes e…

Juntas cavalgámos as ondas, abrimos asas e voámos.

Ensinou-me a olhar as estrelas no seu leito negro.

E esse negro nada era mais do que um manto de diamantes.

Minha querida caneta como te pude esquecer?

Prometo-te… a partir de hoje não mais deixaremos de passear

E no nosso caderno continuaremos a sonhar.

Fortunata Fialho

Velha caneta

Velha caneta.

Noma gaveta escondida uma velha caneta está encarcerada.

Os anos passaram e o carcereiro morreu.

Na sua infância a sua tinta escreveu lindas frases de amor.

Desenhou tantas cartas plenas de promessas,

Confessou tantos desejos escondidos,

Transportou milhares de beijos desejados,

Impressos em cada folha de papel.

Ninguém sabe o que aconteceu… as cartas pararam.

Num momento de dor encarceraram a pobre caneta.

O tempo passou e a pobre esperou.

O carcereiro deixou herdeiros.

Alguém a gaveta abriu e no fundo a caneta encontrou.

Linda, de linhas clássicas, cheia de charme…

Para um bolso alguém a mudou.

No escuro da noite voltou a escrever.

Escreveu o mais lindo poema de amor.

Do seu aparo saíram palavras de saudade…

Palavras de saudade e de dor.

Recordações de um tempo de felicidade,

De um tempo de vida e amor.

No papel surgiu:

Meu querido pai, para sempre viverás em mim.

Guardo os tempos em me pegavas ao colo

Me acariciavas e abraçavas…

Me prometias o mundo e me davas as estrelas.

No teu colo a dor passava e a felicidade morava.

Meu pai, meu herói, meu mágico… meu mundo.

Meu confidente… meu ídolo.

No meu coração tu ainda vives,

Contigo eu desabafo e, não sei como,

Sempre me respondes e aconselhas.

Meu pai… mesmo morto em mim sempre viverás.

E a caneta nunca mais descansou…

Fortunata Fialho

Filhos

Meu Deus…

Os meus brigam a toda a hora

Não concordam em nada.

Por vezes parece que não se suportam.

Não faz mal, daqui a nada serão inseparáveis,

os melhores amigos, o apoio um do outro.

Quando nasceram foi como um milagre.

Olhar para aqueles pequenos seres indefesos e

Lindos, foram dos melhores momentos da minha

Vida.

Cresceram traquinas e demasiado precoces.

Para uma mãe seria sempre bom que se

 Mantivessem pequenos e dependentes de nós.

Crescem …

Tornam-se uns chatos contestatários,

São difíceis de aturar, mas

Continuamos a amá-los incondicionalmente.

Daria a vida pelos meus.

Pelos meus farei tudo o que puder.

No entanto, o que mais desejo é que sejam bons,

Sensatos, sérios e sobretudo felizes.

Fortunata Fialho

O menino e a borboleta.

O menino e a Borboleta.

Verdes campos, ondulando ao vento, salpicados de mil flores.

Uma criança brinca voando ao sabor do vento.

Encantado colhe uma flor. Que bem que ela cheira!

Perdido no aroma, embala um sonho.

Príncipe dos campos, empunha um ramo,

Espada dos sonhos feita de madeira… como brilha!

Uma borboleta, liberta do casulo, pousa no ramo.

Abre as asas… que colorido tamanho.

Realidade ou sonho? Pensa o menino.

Fada de mil cores dona dos campos em flor.

A borboleta voa… o menino ri…

Fada da felicidade é a sua borboleta.

Flores são o seu alimento, com néctar pleno de odores.

Verdes campos, milhares de borboletas…

Meninos bramindo sonhos, docemente encantados,

Correm, enfeitiçados… perseguindo borboletas,

Desenhos coloridos aos olhos inocentes,

Sonhos nascidos no caule de uma flor voam pelos campos.

Cansada, a mais bela das borboletas pousa…

O menino senta-se… de olhos brilhantes, observa.

Não ousa tocar-lhe, não a quer acordar…

Quieto, sonolento, adormece…

A borboleta é ele e voa sem parar.

Dança ao vento ao som do assobio da erva verde,

Que ondula e canta baixinho, num murmúrio doce.

Tantos meninos borboleta, tantas danças efémeras…

Tantos sonhos findados ao abrir dos olhos…

E o menino acorda, a borboleta fugiu…

O menino corre ao sabor do vento.

A borboleta refugia-se no meio de mil flores…

Todos no regaço dos verdes campos em flor.

Fortunata Fialho

Um copo.

Um copo.

Um copo meio cheio repousa na mesa do café.

Uma mão trémula hesita em lhe pegar.

No rosto um sorriso doce e idiota aflora.

Os raios do sol incidem no líquido e iluminam o seu rosto.

O sol, aprisionado no copo, é seu e brilha como nunca.

Ninguém sabe mas ele é a pessoa mais feliz do mundo.

Possui o maior tesouro do mundo… vai ser pai.

A esposa telefonou e a novidade chegou… são gémeos!

Devia estar assustado… dois de uma só vez… felicidade a dobrar…

Pelo rosto rola uma lágrima e cai no líquido que estremece.

Desiste… está feliz demais para beber.

Deposita o dinheiro na mesa e sai.

Precisa de ar, rir como um idiota, dançar e talvez gritar.

Gritar ao mundo que é feliz, que o mundo lhe pertence.

Vai ser pai… vai ser pai…

E o copo? O copo continua meio cheio numa mesa de café.

Fortunata Fialho

O tempo será só meu.

Juntos tivemos partilha, vida, sonhos, vitórias… bons tempos.

Recordo a tua pele na minha pele, o teu sexo no meu sexo …

Parece que ainda sinto a intensidade dos nossos orgasmos e o êxtase dos nossos sentidos.

Sem limites dediquei-te toda a minha vida, toda a minha essência.

Vivi para os nossos encontros, para a intensidade dos nossos sentidos.

Nos teus braços esqueci-me de mim … eu não era nada sem ti.

No meio de muitas desculpas, disseste que o nosso tempo se gastou.

Não entendo como se pode gastar o tempo, o meu não se gasta.

Partiste … eu fiquei. Contigo levas-te o nosso tempo e, pensava eu, a minha vida.

Chorei a perda, chorei o abandono, chorei o desamor … chorei o nosso tempo.

Chorei até se me acabarem as lágrimas, e mesmo assim continuei chorando.

Continuo a amar-te mas, finalmente, revivi. Gastou-se o nosso tempo, não a minha vida.

Agora vou viver, talvez encontre outro grande amor… se não encontrar não importa…

Hoje o tempo é meu, finalmente recuperei-o. A minha vida, o meu tempo, já não és tu.

Hoje vou sair e divertir-me, flirtar, rir, amar, sentir o cheiro do mundo,

Escutar os sons da natureza, desfrutar do barulho do silêncio … viver o meu tempo.

Hoje vou obter o orgasmo dos meus sentidos e o êxtase da minha vida.

Hoje vivo o meu tempo, intensa e apaixonadamente. Não tenciono gastá-lo.

Caso se gaste o tempo não vou deixar que se gaste a vida. Vou continuar a viver, a sonhar e a amar.

Vou, eternamente, ser feliz e o tempo será só meu.

Fortunata Fialho

Escuridão.

Escuridão

A escuridão, nada tem de assustador.

Assustador é viver na escuridão,

Não ver o que nos envolve,

Desconhecer o que nos rodeia,

Não ter noção do que se passa.

Escuridão assustadora, é aquela de que não

Podemos fugir,

Que nos faz correr, sem nunca chegar ao fim.

Escuridão é desconhecer se teremos futuro.

Escuridão é não saber se os nossos filhos,

Poderão construir vidas próprias,

Serem independentes,

Terem filhos com futuros luminosos.

Escuridão é estarem a destruir o futuro por nós

Construído.

Escuridão é não poder garantir o futuro da

Nossa família.

Escuridão, esta, aterradora.

Por favor!

Iluminem a escuridão do ser humano.

Iluminem a minha escuridão!

Fortunata Fialho