Melancolia

escreversonhar

Melancolia.

Olho
pela janela e, de repente, uma rajada de vento agita as árvores.

Algumas
gotas de chuva caem, tímidas e quentes, levantando poeira.

Ao
longe as árvores cobrem-se de mil tons amarelados,

O
verde viçoso e brilhante esconde-se envergonhado.

As
folhas entristecem e, numa tentativa vã de desespero, escurecem.

Onde
outrora o verde era rei agora o amarelo outonal lidera.

O
verde não se deixou derrotar e renasce em cada tronco de árvore,

Em
cada pedrinha sombria e até no solo húmido.

Um
viçoso musgo cobre de tons esverdeados os mais recônditos lugares.

A
chuva cai cada vez com mais intensidade mas isso não importa.

O
seu molhar ainda é ligeiramente quente e retemperador.

Afinal
quem não gosta de caminhar à chuva,

Sentar-se
num tronco de árvore e admirar as paisagens?

Sentir
na pele o doce contacto da água, fresco e reconfortante?

Sentir
o suave toque do musgo que…

View original post mais 137 palavras

Suicídio

Suicídio.

Pelo beiral da minha casa uma gota de chuva suicida-se.

Considera-se menos importante que o aguaceiro.

Perdeu o ritmo das suas irmãs, atrasou-se… coitada!

Convenceu-se de que nada valia e perdeu o ritmo.

No seu desânimo perdeu o interesse na vida.

Convenceu-se de que nunca chegaria ao mar…

Ao rio… à ribeira… nem sequer ao pequeno regato do quintal.

Pobre gota de chuva… tinha toda uma vida pela frente,

Bastava um pequeno esforço e teria sido regato,

Crescido e ser uma ribeira, umas léguas à frente rio.

Sem se aperceber teria sido mar, percorreria os oceanos.

Que pena… o desânimo tomou conta de si…

Não conseguiu lutar… evaporou-se… suicidou-se.

Bastava ter-se deixado cair, as suas irmãs esperavam

E ela não chegou. As outras choraram e partiram.

O mundo não terminou, o regato continuou a correr

Tornou-se ribeira, engrossou e foi rio,

Continuou a crescer e foi mar… oceano.

Pobre gotinha triste… não conseguiu pedir ajuda,

Isolou-se… chorou em silêncio… adoeceu,

E num lamentável suicídio evaporou-se…

E todas as suas irmãs choraram, gritaram, lamentaram,

E numa última e sincera súplica em uníssono desejaram:

Que mais nenhuma gota se suicide, que a tristeza nunca mais vença,

Que toda a gota chegue sempre ao riacho mais próximo

A partir daí todas chegarão ao mar.

Que voltem todas as que se evaporam,

Que gotas voltem a ser e, que do planeta todas venham cuidar.

E a gota teve nova oportunidade, nova vida, dizem alguns.

E hoje brilha no cimo de cada onda, no leito do mar.

Fortunata Fialho

 

Medo.

escreversonhar

Medo

Medo… por todo o lado impera o medo…

Começa o inverno e com ele o medo do frio,

Medo da chuva, medo das longas noites…

Vem a primavera e com ela o medo da água ser pouca,

Medo de que a chuva não chegue e o frio não passe,

Medo do calor intenso antes do tempo.

O verão chega trazendo com ele o medo,

Medo que a seca seja rigorosa e que os campos se
incendeiem,

Medo da sede, medo do calor escaldante,

Medo de que os riachos sequem,

Medo do sol inclemente, medo dos seus raios inclementes.

O outono reclama o seu lugar e o medo não parte.

Medo de que tempo não refresque, que a chuva não chegue,

Que os rios não encham, que os campos não se renovem,

Que por todo o lado o verde tarde, as árvores não se
enfeitem,

Medo do encurtar dos dias…

View original post mais 142 palavras

O menino e a borboleta.

escreversonhar

O menino e a Borboleta.

Verdes campos, ondulando ao vento, salpicados de mil flores.

Uma criança brinca voando ao sabor do vento.

Encantado colhe uma flor. Que bem que ela cheira!

Perdido no aroma, embala um sonho.

Príncipe dos campos, empunha um ramo,

Espada dos sonhos feita de madeira… como brilha!

Uma borboleta, liberta do casulo, pousa no ramo.

Abre as asas… que colorido tamanho.

Realidade ou sonho? Pensa o menino.

Fada de mil cores dona dos campos em flor.

A borboleta voa… o menino ri…

Fada da felicidade é a sua borboleta.

Flores são o seu alimento, com néctar pleno de odores.

Verdes campos, milhares de borboletas…

Meninos bramindo sonhos, docemente encantados,

Correm, enfeitiçados… perseguindo borboletas,

Desenhos coloridos aos olhos inocentes,

Sonhos nascidos no caule de uma flor voam pelos campos.

Cansada, a mais bela das borboletas pousa…

O menino senta-se… de olhos brilhantes, observa.

Não ousa tocar-lhe, não…

View original post mais 77 palavras

Um pouco de “A soma dos nossos dias”

(….)

Comecei a viagem com uma visibilidade impecável, mas de repente um denso nevoeiro surgiu como uma cortina para a invisibilidade. Cega momentaneamente, confesso que me assustei.

Quando cheguei ao trabalho uma notícia deixou-me bastante triste e preocupada, um meu antigo aluno foi colhido por um touro e está a lutar pela vida no hospital. Como é possível que estes miúdos se metam em situações destas? Só tem dezasseis anos, espero que consiga recuperar, ninguém merece. Numa aula de Educação Física duas miúdas magoaram-se e foram para o Centro de Saúde. No intervalo seguinte uma brincadeira a imitar as touradas correu mal, quando um dos miúdos tentava dar uma “marrada”, falhou o alvo e embate no vidro de uma porta com a cabeça. O sangue era mais que muito e tiveram de chamar o INEM.  Novo intervalo e a bola que um aluno transportava foi-lhe retirada e pontapeada. Novo vidro partido. Por esta leva vamos ficar sem vidros na escola e sem alunos inteiros.

 Os miúdos de uma das turmas levaram uma caixa de sapatos quase cheia de rebuçados para uma atividade de Educação Moral e Religiosa Católica e, como era óbvio, sobraram imensos. Para onde tinham de vir? Para a minha aula. O regulamento interno diz que é proibido comer nas salas de aula. Eu bem que queria que assim fosse. Tarefa inglória, assim que voltava as costas lá se distribuíam rebuçados e só se ouvia o desembrulhar dos chamativos e apetitosos doces. Venceram-me e eu acabei por pedir, ou melhor exigir que não aparecessem papéis no chão. Até eu acabei por ter de aceitar alguns. Claro que não os comi, tenho que dar o exemplo, mas bem que me apetecia um. Resisti orgulhosamente marcando a minha posição, não comeria na sala de aula.

Para finalizar bem o dia de trabalho fiquei a saber que o meu antigo aluno, que tinha sido colhido pelo touro, já não corre perigo de vida.  (…)

Fortunata Fialho

Minha querida caneta.

escreversonhar

Minha querida caneta.

Não sei que me deu quando resolvi abrir a gaveta.

No fundo, um pouco esquecida repousava uma das minhas canetas.

Coitada, com o tempo foi substituída por várias esferográficas.

Linda, elegante e muito artística, parecia sorrir pedindo para ser usada.

Tinha sede e ao tinteiro a levei a beber.

Agradecida acariciou a minha mão e segredou ao meu ouvido:

Vamos passear no teu esquecido caderno.

Convite aceite. Há tanto tempo que nele não escrevia.

Na folha em branco letras lindas surgiram.

Lindas letras artisticamente desenhadas.

As palavras sucederam-se num ritmo em crescendo,

As linhas ganharam vida e sorriram enquanto o aparo bailava.

E a caneta escrevia sobre o sol que nascia,

Sobre as folhas que esvoaçavam, sobre o riacho que corria.

Descrevia as gargalhadas das crianças, o trinar dos pássaros,

O zumbido das abelhas e o murmurar das searas.

Escreveu sobre os amantes que se beijavam,

Sobre…

View original post mais 95 palavras

Muitos parabéns princesa Mariana.

Mariana

             Num futuro nada distante, uma princesa estava quase, quase a festejar mais um aniversário. Ansiosa, contava os dias que faltavam e desesperava com a lentidão dos que teimavam em não passar.

            Finalmente só já faltava um dia.

            Nessa manhã, a caminho do seu colégio, a nave onde seguia teve uma falha de energia. Felizmente os seus avós moravam perto e assim poderiam carregar a bateria e seguir viagem.

            Vaidosa e impaciente deu um beijo a cada um dos avós e disse: “- Amanhã faço anos.”

            A avó respondeu: “- Quem te disse isso?” Ao que prontamente respondeu: “- Foi o meu pai.” Claro que palavra de pai valia mais que tudo.

            Entusiasmada afirmou que iria receber muitas prendas e notinhas. Acrescentou ainda que também adoraria roupas. Claro, vaidosinha como era, roupas novas eram sempre muito bem-vindas.

            Como o avô era muito brincalhão provocou-a dizendo que já lhe tinha enviado a prenda para o pai, uma grande caixa da melhor cerveja biológica e muito alcoólica. O seu rostinho mudou de expressão e, admirada, respondeu: “- Avô, mas eu não gosto de cerveja, cerveja é só para crescidos e eu só vou fazer cinco anos!”. Rindo, o avô aconselhou-a a pedir ao pai que lhas trocasse por umas notinhas.

            Nessa noite o sono não chegava e a ideia de ir receber cervejas em vez de brinquedos não a deixava nada satisfeita. Que raios estaria o avô a pensar? E a avó, porque é que se tinha rido e não tinha feito nada?

            Finalmente adormeceu e sonhou com muitos embrulhos, os quais abria e de onde saiam bonecas, joias brilhantes, estojos de maquilhagem, livros de histórias, jogos divertidos e algumas roupas bem giras e divertidas. Bem no final, uma grande caixa com um lançarote impressionante. Sofregamente, rasgou o papel e… surpresa… as malditas cervejas. Que raios, afinal sempre era verdade!

            Na manhã seguinte, o sol já ia alto quando acordou e, o robô mordomo já estava enfeitando toda a casa e a cozinheira, último modelo, fazia bolinhos, doces, refrescos e muitas outras coisas deliciosas.

            Finalmente a campainha tocou. Eram os convidados que começavam a chegar.

            A princesinha correu para abrir, não sem que primeiro perguntar cautelosamente quem era. Surpresa eram os avós que nas mãos traziam um grande saco com papeis coloridos lá dentro. Eram as suas prendas. O saco era leve de mais e as cervejas costumavam ser pesadas.

            Cautelosamente abriu os embrulhos e, lá de dentro, saiu um lindo conjunto de noite que deixaria todas as outras princesas com inveja e, um estojo que faria muito jeito para a ajudar a ficar ainda mais bonita.

            Com um sorriso de orelha a orelha, olhou para o avô, abraçou-o dizendo-lhe ao ouvido: “- Seu brincalhão, estavas a brincar comigo.”

Moral da história, afinal os avós gostam de pregar partidas às suas princesas.

Fortunata Fialho.

Janela

O poeta e os outros poemas

Janela

Da janela da tua alma,
Escancarada à calma maresia,
Perco-me no movimento,
Ondular do teu sentir!
Brisa leve que me acolhe,
Por inteiro no teu ser,
Asas que me elevam,
Que me fazem voar em ti,
No teu querer,
No teu saber,
No teu desejo,
Doce sabor do beijo,
Alma minha que me junta,
No disperso pensar,
No abrangente sentir,
Que faz luz na escura noite!

Janela, visão do teu olhar o mundo,
Imagens de mim a cada segundo,
Que me congrega como um espelho,
Que me prende na visão,
De ser e ver através dela!

Alberto Cuddel
06/07/2015

View original post

Escrevo. “Quero um poema…”

escreversonhar

Escrevo

Escrevo quando estou
triste, escrevo se estou feliz.

Escrevo o que me vem
no coração,

Escrevo aquilo que
gostaria de ser.

Escrevo amores e
desamores.

Escrevo realidades e
ilusões.

Escrevo no calor da
noite quando os sonhos me visitam.

Escrevo sob o calor do
sol e sob o azul do céu.

Escrevo porque detesto
que as folhas continuem em branco.

Escrevo porque adoro o
rodopiar das letras,

E o seu bailado
pincelando palavras na alvura de um palco.

Escrevo porque assim
me sinto mais viva.

Escrevo para viver mil
diferentes vidas.

Escrevo para não
deixar morrer o sonho.

Nas páginas deixo a
minha alma,

Crio mundos diversos,
belos, justos, inocentes.

Vivo amores doces e
ternos, plenos de ternura;

Quentes e eróticos,
plenos de desejo e luxúria.

Escrevo porque assim
sou mais eu, livre de fronteiras,

Dona do mundo e dos
meus sonhos.

Escrevo amores
sonhados onde o limite é…

View original post mais 15 palavras

Crescer. Em “Abraços de Palavras”

Crescer.

Tantos meses envolta numa mistura de sons e carinhos!

De repente o mundo parece ruir e a dor acontece.

Na inglória luta para ficar e um corpo que a quer expulsar,

O seu mundo muda, adquire luz e sensações muito variadas.

Frio, calor, sol, escuridão… e de repente o choro acontece.

Medo? Talvez! Ansiedade e insegurança? De certeza!

O carinho e amor tudo ajudam a superar.

De colo em colo, entre beijinhos e abraços, os dias passam.

Os sons acontecem e com eles as primeiras palavras.

Os brinquedos teimam em fugir e o gatinhar acontece.

Explorar é uma urgência e começa a caminhar.

O corpo cresce e com ele a personalidade evidencia-se.

Vem a escola e os amiguinhos novos… tantos anos de escola!

O corpo muda e as amizades também.

Os sonhos mudam e os príncipes encantados perdem o encanto.

Nenhum irá aparecer num cavalo branco…

Algures o encanto renasce e o encantamento acontece de novo.

A menina… adolescente… tornou-se mulher.

O tempo passou tão rápido como se a pressa o empurrasse.

Tempo inimigo de qualquer mãe… de qualquer pai…

Tempo ingrato que não tem contemplações e…

Teimosamente teima em não parar.

Um dia, quem sabe, o seu ventre será um mundo.

Um mundo de carinho e sons protetor de nova vida.

E o ciclo recomeça e o tempo não se detém…

Um tempo que se renova e agiganta alimentando-se

De um amor imenso existente no ventre de cada mãe.

E o tempo passa e os filhos crescem…

Fortunata Fialho