Poema do dia 29/06/2018 — Entre Pontos e Vírgulas, Poesia!

Poema do dia 29/06/2018 Chovia, num choro imperceptível, quase inaudível, num suicídio húmido contra as janelas do quarto… de ouvido colado ao chão escutava a terra, e o mundo em silêncio… A terra gritava por amor e cumplicidade A crosta por verdade chorada e saudade! Corria pelo caminho apinhado de gente Sem nada saber ao […]

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… E em casa…

… Um toque de campainha despertou-a em sobressalto. Tentando recuperar da letargia em que se encontrava, ajeitou o cabelo, compôs a roupa, pousou a mala e abriu a porta. Subitamente ficou sem chão, no outro lado da porta uma voz pediu “Posso entrar”. Sem articular qualquer som, a sua voz tinha-se emudecido, afastou-se deixando a entrada livre.

Que se passava com ela? Devia estar louca, permitir a entrada a um desconhecido com todos os riscos que dai podiam advir, não parecia coisa dela. Agora um desconhecido tinha entrado e olhava fixamente para si. Devia estar a viver um sonho mas recusava-se a acordar com medo de que a realidade fosse igual a todos os dias.

Sonho ou realidade pouco importava, decidiu viver esse sonho e deixar que a realidade não interferisse. Quando acordasse logo se veria.

Lentamente fechou a porta e sem desviar os olhos sorriu, pendurou-se no seu pescoço e num beijo ardente saboreou aqueles lábios. Afinal os sonhos não tinham censura e neles tudo era permitido. Sentiu-se elevada nuns braços fortes e delicados ao mesmo tempo que sentia a sua boca ser devorada.

“Quero-te tanto, estou louco de desejo”. Ela respondeu debilmente “Tenho sonhado contigo”.

Não foram necessárias mais palavras, os olhos falavam por eles.

Lentamente as suas roupas começaram a deslizar para o chão formando um tapete desordenado pela sala. Mãos suaves deslizavam pelas suas costas apertando-a com um desejo incontrolável. Com os seios livres, ardentes de desejo, deixou que os acariciasse aproveitando todas as sensações que essas carícias lhe proporcionavam. Os corpos, livres de roupas, ardiam de desejo incendiados por pura paixão…

 

Fortunata Fialho

 

 

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Imagem retirada da internet.

 

… no elevador…

… Ao acercar-se do elevador do seu prédio, alguém a esperava. Um sorriso sedutor enfeitava aquele rosto de feições delicadas possuidor de tão hipnotizante olhar, intensamente negro e profundo, que parecia ler-lhe a mente. Não sabia se devia recuar e fugir pelas escadas ou entrar no elevador e deixar que as coisas acontecessem. Não necessitou decidir, uma mão firme e quente, puxou-a suavemente para dentro do elevador. Mal as portas se fecharam uma carícia em seu rosto tornou a sua pele rubra e a respiração lenta e pesada. Um hálito quente e fresco fez-se sentir no seu rosto ao mesmo tempo que uns lábios sedentos se apoderaram da sua boca. Sem se conseguir mover entreabriu os lábios e um abraço forte e firme aprisionou-lhe o corpo na tentativa de fusão entre dois corpos até então desconhecidos. O tempo parecia ter parado, as suas pernas tremiam. Quando o elevador parou e as portas se abriram, os seus corpos permaneceram enlaçados incapazes de se separarem…

 

Fortunata Fialho

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… sonho…

… Nessa noite o sono teimou em não chegar e, quando finalmente adormeceu, o sonho chegou. Vindos do nada, uns olhos negros envolveram-na e uns lábios doces e quentes beijaram o seu rosto, os seus olhos, a sua boca e lenta e docemente desceram percorrendo o seu corpo. Flutuando em ondas de prazer o seu corpo estremecia. Que prazer intenso! Suaves mãos acariciavam o seu corpo e, lentamente, um corpo firme e quente uniu-se ao seu.

O despertador tocou e a realidade impôs-se. Fechou os olhos, queria tanto continuar a sonhar, o seu corpo queria mais. O sonho não voltou e, contrariada saiu da cama, o trabalho esperava-a…

 

Fortunata Fialho

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Um postal ilustrado antigo.

 

Cansada…

Neste momento estou tão cansada, lutar pelo que é nosso de direito não é fácil.

Sou professora e todos sabem que estamos em luta e esta luta já vem desde a primeira semana deste mês.

Estamos desgastados mas não pensamos sequer em desistir. Não queremos dinheiro, ao contrário do que muita gente diz ou pensa, sabemos que será impossível pagarem- nos os retroactivos de mais de nove anos. Apenas queremos os anos de serviço que nos são devidos para a progressão na carreira.

Todos estes anos tivemos os salários congelados e nem sequer pudemos progredir na carreira, apesar de ser-mos avaliados todos os anos ao contrário do que vos fizeram pensar.

Primeiro disseram que era por poucos anos e esses anos foram-se prolongando. Aceitamos e resignámo-nos, mas sempre na esperança de que pelo menos o tempo de serviço nos fosse devolvido e agora, depois de terem dito que sim, recusam devolvê-lo.

Nós nem pedimos tudo de uma vez, pedimos sim a negociação das parcelas necessárias.

Dizem que somos muitos mas só somos muitos porque somos necessários, que somos demais e no entanto continuam a faltar tantos professores todos os anos. Se somos demasiados então porque têm as turmas tantos alunos?  Porque temos que considerar como componente não lectiva tantas horas que passamos com os alunos?

Estou, ou melhor, estamos de ser considerados os maus da fita, os ingratos e os culpados de tudo. Merecemos o mesmo respeito que qualquer outra classe. Afinal qual o deputado, médico , juiz, advogado, … ou até o trabalhador menos qualificado passou sem professores?

Parece que se esqueceram de que para aprender a ler, escrever e contar, todos tiveram um professor.

Sou professora e orgulho- me do que faço, só lamento não ser tratada com a dignidade e o respeito que mereço. Sempre tentei ajudar os meus alunos, dei o melhor de mim, respeitei quem me rodeia e nunca tirei nada que não fosse meu.

Agora, juntamente com os meus colegas, estamos em luta exaustos mas firmes. Só queremos o que nos é devido, não pretendemos tirar nada de ninguém.

 

Fortunata Fialho

 

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