Antes de mais é uma honra e um privilegio ter sido convidado a ler esta obra em primeira mão, esta obra, em que mais do que pintar a poesia (Poesia Colorida) a autora Fortunata Fialho, professora de sua profissão, nos mostra como pintar a vida, a que vemos e que sentimos. Ler esta obra poética, mais que olhar o mundo pelo olhar do autor, é despir-se de emoções e ideias preconcebidas, é estar aberto a novos olhares, a novas cores, é estar disposto a contemplar a alvura da noite, pelo olhar de um cego. Ler poesia é saber pintar na alma com novos pinceis, outras paisagens.
Pensei varias vezes em seguir um padrão habitual, cronológico, mas como um livro de poesia não deve ser lido, mas ir-se lendo, permiti-me deambular pelas paisagens habilmente pintadas pela autora, e deixar-me surpreender pela beleza, pela analogia, pelas metáforas, e eis que me deparo com um poema que me transporta dali, numa clara associação de pensamentos dou por mim a lembrar São Francisco de Assis, tudo é tao perfeitamente simples quando amamos o que é natural, com a naturalidade de estar grato pelo dom da vida:
“Obrigado ao sol por nascer todos os dias,
Obrigado à noite que me aconchega.
Obrigado ao vento que me acaricia,
Obrigado à água que me refresca.
Ao amor que me completa um obrigado apaixonado,”
Nesta obra a autora além de pintar paisagens como o seu Alentejo, Fortunata Fialho pinta essencialmente sentimentos, estados de alma, pinta as gentes, a dor e a terra:
“Onde cada porta se abre a quem vier por bem.
Terra de brandos costumes e corações imensos,
Onde com abraços, pão e vinho se acolhem as gentes.
Alentejo, terra linda, de gentes tranquilas e amáveis.”
Na sua poética muito centrada na observação do mundo, no sentir que se abre na translucidez da alma onde as cores se misturam com as palavras, onde a outrora faz da alva folha tela de sentires em cores do arco-íris, levando o leitor ao êxtase do sonho, ali diante dele, numa realidade nua, onde os astros me imiscuem no peito:
“Um mundo colorido com laivos de carinho,
Vermelho de luz, amarelo de sol,
Azul como a doçura líquida da água.
Verde como os campos renascidos,
Preto… coberto de estrelas,
Prateado como os reflexos da lua,
Ternurento como as mãos rosadas de uma criança.”
Passamos pelo tempo, com um amigo, este amigo que nos fala, ler um livro de poesia é travar uma íntima discussão connosco mesmos, é um monologo interior segundo a nossa vivencia e conhecimento, e nisso a autora também nos acorda para realidade, chama a nós a vida, os problemas reais que existem ali, bem ali diante de nós, como a discriminação, como a exploração, a violência domestica e suas consequências:
“O povo criticou, hostilizou e disse, “ Desenvergonhadas”
Elas fingiram não ouvir e continuaram.
Os homens assustaram-se e tentaram pará-las.
Então um disse, “ Ganharam o meu respeito”
E a ele outros se juntaram e novamente coabitaram.”
Nesta paleta de cores não conseguimos dissociar a poesia da realidade, dos sentimentos profundos, da arte de sentir, da essência da vida, e nisso a autora quebra tabus linguísticos, escrevendo com todas as cores a arte de amar e do prazer:
“Amávamos fisicamente sem tabus.
Lembro todos os suores lavados das nossas peles,
De todos os orgasmos partilhados,
Das palavras abafadas pelo som da água corrente.”
É por tudo isto e por todas as cores que estou grato, que mormente agradeço o enorme privilégio de ter lido e continuar a ler esta obra poética, parabéns Fortunata Fialho, este não é mais um livro de poesia, mas sim uma tela onde com palavras simples pintaste a vida.
Sentei-me ao computador com uma enorme vontade de escrever. Surpresa! Perdi a inspiração.
E agora? Que faço com esta vontade?
Olho em volta e nada me inspira.
Que monotonia está tudo na mesma.
Olho pela janela e o sol brilha. Há tanto tempo que andava desaparecido. Percorro o espaço exterior com os olhos.
Vejo lindas flores nos meus canteiros, todos os dias aparecem mais algumas.
O meu quintal resplandece de cor e de alegria. Os pássaros chilreiam nas árvores. Não consigo descobrir nenhum ninho, talvez ainda seja cedo.
Vistosas joaninhas passeiam-se sobre as flores comendo o piolho das plantas. Uma borboleta esvoaça em redor da minha janela. Deve de estar a exibir o seu belo colorido, e que colorido! Recuso-me a pensar que anda a depositar os seus ovos nas minhas plantas. As lagartas vão banquetear-se e eu vou ficar muito aborrecida.
No canil as cadelinhas estão estendidas a apanhar todo o sol que podem, nem me ligam. Eu bem me esforço mas elas ignoram-me.
Tantas abelhas no meu quintal! Será que não me vão picar? Talvez deva ter cuidado e deixá-las andar à vontade.
Levanto o olhar e surge um céu tão azul que encandeia. Nenhuma nuvem o mancha.
De vez em quando, passam alguns pássaros voando e chilreando.
Contínuo sem inspiração. Não sei por onde começar. Talvez seja melhor desistir, fechar o computador e esperar por melhor ocasião.
Vou esperar pela minha inspiração. Talvez ela se digne voltar.
Se voltar posso escrever mais uma história daquelas que tanto gosto tenho em contar.
Desde que somos concebidos a nossa vida é feita de sonhos. Os pais sonham
futuros promissores para os filhos, eu ainda o faço com os meus.
Os filhos vão crescendo e vão sonhando sonhos próprios de cada etapa do
seu crescimento. Passam pelos sonhos fantásticos, pelos incoerentes e
inalcançáveis da adolescência e, finalmente, pelos mais realistas.
Todos crescemos, e muitas vezes, os sonhos perdem-se nas
responsabilidades da vida adulta. Eu, como tantas como eu não perdi os meus
sonhos, simplesmente os deixei em espera. Primeiro foram os filhos e sonhei o seu
futuro. Lutei para que nada lhes faltasse e isso fez-me feliz. Os filhos
cresceram e os sonhos voltaram.
Sempre fui uma pessoa que lia tudo aquilo a que tinha acesso, ler sempre
me deu um prazer imenso. Da leitura à escrita foi uma evolução natural.
Comecei a escrever porque escrever é um prazer imenso que me proporciona momentos…