Nuvens negras

Nuvens negras.

Olho o céu e não encontro o sol, nuvens negras não o deixam ver.

Ao longe ecoam trovões e raios traquinas iluminam os céus.

Uma gota de chuva, desenvergonhada, pousa no meu nariz.

Um som intenso e assustador faz-me estremecer,

Num ribombar intenso a trovoada aproxima-se assustando o petiz.

Assustado chora no colo de sua mãe que o acaricia.

Outra gota descarada pousa em meu rosto.

Logo outras se lhe juntam e refugio-me em casa.

Das negras nuvens surge uma cascata,

A chuva torrencial inunda os campos e entra pela janela.

As ruas são rios caudalosos que tudo arrastam.

Todos os deuses parecem estar loucos, soltando fúria,

Lançam raios e fazem rufar os tambores.

Ou será a terra em revolta que chora e se lamúria?

Chora as dores das chagas abertas e não cicatrizadas,

Grita o sofrimento das queimaduras profundas,

Agoniza sem consolo num colo que já não existe

Pedindo à humanidade que a socorra.

O céu veste-se de nuvens negras e chora.

Chora, de desespero e raiva, em torrentes de lágrimas.

Pobre terra agonizante… temos que a salvar…

Fortunata Fialho

Eu… mulher.

Nasci num tempo em que a mulher era um ser secundário,

Sempre trabalhou tanto como qualquer homem,

No campo, ou noutro local qualquer, ganhando pouco…

Não deveria ter um emprego mais lucrativo que o esposo,

Todo o trabalho de casa era seu… partilhá-lo com o homem…

Impensável, era obrigação das mulheres os seres secundários.

Podem não acreditar mas ainda se criticava a depilação,

Mulher séria não se devia depilar, mostrar as pernas não era decente.

O marido mandava e a esposa obedecia… por vezes apanhava…

Não fazia mal pois entre marido e mulher ninguém metia a colher.

Cresci numa família tradicional… talvez não tanto…

Estudei… cresci… estudei mais… continuei a crescer.

Não fisicamente mas sim psicologicamente.

Quem me ama não se importa com o meu salário,

Ninguém tem direito a pensar que é superior…

Nem mesmo os homens… ou as mulheres.

Eu mulher não sou inferior a alguém…

Também não sou superior a ninguém.

Não sou feminista… só quero ser gente…

Como toda a gente independentemente do sexo.

Não aceito que me imponham limites… sempre irei lutar.

Sou mulher e só a mulher sabe o que é criar vida,

Sentir um ser crescer dentro de nós… o homem não.

Então como é que qualquer homem se pode considerar superior?

Fortunata Fialho

Simples sorte ou um bom anjo da guarda?

            Podia ser uma história inventada mas, muitas vezes a realidade supera a imaginação mais fértil. Como a maioria dos professores, para trabalhar, tenho que viajar para outra localidade longe da minha residência.

            Viajar dia após dia, semana após semana, mês após mês, durante vários anos reserva-nos muitas surpresas. Chuva, nevoeiro, ventos violentos, condutores irresponsáveis e algumas distrações reflexo do cansaço acumulado, são muito frequentes. Não nego que lindas paisagens e nascer e pôr-do-sol encantadores, são benefícios que quem se levanta mais tarde e chega cedo a casa não usufrui.

            Numa manhã como tantas outras em que me dirigi para o trabalho, numa curva perigosa, atualmente suprimida por uma nova estrada, um veículo comercial surgiu. Não sei o que se terá passado mas, finalizada a curva o veículo começou a capotar.

 Não me pareceu vir com velocidade excessiva, não vinha nenhum veículo em sentido contrário além do meu o qual lhe não afetava em nada o trajeto.

Como um carrinho de brincar lançado pela mão de uma criança, saltava e ressaltava pela estrada fora.

Nunca conseguirei esquecer aquela mancha verde que se aproximava do meu carro sem me deixar fuga possível. Quando já considerava inevitável que o próximo ressalto seria para cima do meu veículo e comecei a ver a minha vida a andar para trás, o impossível aconteceu. Como que empurrado, no último ressalto foi projetado para o lado e finalmente travado pela barreira. Eu, atónita e incrédula, encostei o carro e corri em auxílio do condutor, acreditava que o iria encontrar gravemente ferido. Para meu espanto este saiu do veículo sem qualquer beliscadura visível, já de telemóvel na mão para pedir auxílio e aparentemente muito mais calmo que eu. De notar que eu tremia tanto, que até custava a manter o equilíbrio, devido ao enorme susto provocado por este acidente tão insólito.

Com a maior tranquilidade agradeceu a minha ajuda ao mesmo tempo que dizia não ser necessária e me disse para seguir tranquilamente o meu caminho que ele já estava a chamar ajuda.

Nunca acreditei muito em anjos da guarda mas, nesse dia acreditei que se eles existiam os nossos tinham sido os melhores, os mais eficientes e os mais atentos de todos.

Fortunata Fialho

🌉Encontro. 🌉

escreversonhar

Encontro

Naquele final de tarde o calor convidava a uma saída.

No jardim perto do mar os bancos de pedra convidavam ao descanso.

A brisa refrescava-me numa terna carícia.

Tentei perder-me nas páginas do meu livro.

Não consegui.

Uma sensação estranha percorria o meu corpo,

Parecia que algo ou alguém me observava.

Passos, lentos e firmes, soavam cada vez mais perto.

“Posso fazer-lhe companhia?”

Emudeci, nunca um sorriso me tinha parecido tão belo.

Devo ter dito que sim, não me lembro.

O livro deixou de ser interessante e o calor voltou.

Tentava não olhar mas, os olhos não obedeciam.

Finalmente, não sei como, a conversa fluiu.

Não podia acreditar, parecia que sempre nos conhecêramos,

Gostávamos dos mesmos livros, dos mesmos filmes,

De passear no campo….

Devia estar a sonhar… as nossas mãos uniram-se,

Os corpos aproximaram-se… os lábios colaram-se.

O fim de tarde tornou-se noite.

As estrelas brilharam mas o…

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Medo

Medo

Nos recantos mais escuros sons misteriosos ecoam.

Transportados pelo vento norte penetram em cada casa,

Os habitantes amedrontados fecham os ferrolhos e trancam as portas.

À lareira contam-se histórias de almas penadas perdidas no tempo.

Aterrorizados os vivos escondem-se dentro dos lençóis,

Em cada canto uma ténue luz ilumina o escuro.

Pobres coitados, as pequenas chamas projetam sombras irreais.

Sem dó alimentam o terror com figuras incorpóreas.

No céu a lua não apareceu… mau presságio… é noite das almas.

Nas torres piam corujas, lá longe ouvem-se os mochos

Pelos ares esvoaçam morcegos… olhos brilhantes rasgam o breu…

Roncos ecoam na noite, monstros terríveis acercam-se.

Rezas aflitas soam nas casas… pedem proteção para os vivos…

Imploram clemência e paz para os mortos…

Finalmente o sol acorda e incendiar os ares,

As corujas e os mochos dormem e os morcegos recolheram-se.

Os vizinhos acordaram e os roncos calaram-se…

O vento continua a soprar sons que recolhe no ar.

As almas recolhem às tumbas fugindo da luz solar.

A lua adormeceu, o sol acordou e o vento continua a soprar.

Pobres almas vivas e supersticiosas,

Continuam em maldições inventadas pelo medo,

Terrores passados por histórias de tempos idos

Ditadas pela crendice e pela ignorância…

Alimentada pelo desejo de controlo e submissão.

Pobres mentes desinformadas, manipuladas e amedrontados…

O vento é só vento… As aves só aves noturnas…

Os roncos vizinhos que dormem… o escuro a ausência de luz…

As almas penadas fruto do medo em que nos ensinaram a acreditar.

Fortunata Fialho

Ler

Ler

Qual a melhor forma de passar o tempo?

Como podemos viajar sem sair do lugar?

Quando o desejo de fugir da rotina é muito.

Nada melhor que uma visita à estante, lá estão viagens, romance, cultura… companhia. Um livro não nos dececiona tem sempre alguma coisa a contar ou ensinar.

Tenho viajado muito pouco mas, conheço tantos lugares. Viajou pelo mundo nas páginas de um bom livro, ou revista, de reportagens sobre o que nos rodeia. Para onde vou a minha capacidade linguística não me incapacita, viajou em português. A comida não é problema, como com os olhos. Não dizem que os olhos também comem? Então acreditem é assim que me alimento nas minhas tranquilas viagens e ainda nunca adoeci.

Enquanto alguns se dedicam a saber da vida alheia, eu também o faço. Abro um livro com um bom romance e desfrutou das vidas nele, contidas. E como eu gosto de viver as suas histórias! Choro de emoção, rio de alegria e, por vezes até me apetece participar nas suas conversas.

Nas minhas estantes encontram-se mundos tão diversos mas muito emocionantes. Ajudam-me a passar o tempo e ainda me presenteiam com conhecimento e inspiração.

Como eu adoro ler!

Fortunata Fialho

Sim… acredito.

Sim… acredito

Sim, acredito que o mundo poderá ser bem melhor,

Que os rios, mares e oceanos podem ficar limpos,

Que os campos se cobrirão de verde, sem flores de plástico.

Sim acredito que as guerras irão acabar e a felicidade irá voltar.

Que os animais jamais se extinguirão.

Que as plantas sempre irão florescer ricamente perfumadas.

Sim acredito que o amor contagia.

Que os corações duros podem ser suavizados.

Que por todo o lado ecoarão gargalhadas,

Que os olhos brilharão como estrelas,

Que nos lábios permaneça um eterno sorriso.

Sim acredito que em cada criança só exista amor e felicidade,

Que nenhum idoso será abandonado,

Que todos viverão saudáveis até ao momento de partirem.

Sim acredito que o sonho será uma constante em cada um,

Que a noite não trará mais pesadelos, só sonhos.

Que os sonhos sejam belos e coloridos,

Plenos de amor e esperança.

Sim acredito… talvez ingenuamente…, mas acredito…

Fortunata Fialho

Encontro.

escreversonhar

Naquele final de tarde o calor convidava a uma saída.

No jardim perto do mar os bancos de pedra convidavam ao descanso.

A brisa refrescava-me numa terna carícia.

Tentei perder-me nas páginas do meu livro.

Não consegui.

Uma sensação estranha percorria o meu corpo,

Parecia que algo ou alguém me observava.

Passos, lentos e firmes, soavam cada vez mais perto.

“Posso fazer-lhe companhia?”

Emudeci, nunca um sorriso me tinha parecido tão belo.

Devo ter dito que sim, não me lembro.

O livro deixou de ser interessante e o calor voltou.

Tentava não olhar mas, os olhos não obedeciam.

Finalmente, não sei como, a conversa fluiu.

Não podia acreditar, parecia que sempre nos conhecêramos,

Gostávamos dos mesmos livros, dos mesmos filmes,

De passear no campo….

Devia estar a sonhar… as nossas mãos uniram-se,

Os corpos aproximaram-se… os lábios colaram-se.

O fim de tarde tornou-se noite.

As estrelas brilharam mas o tempo…

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