Carta de “amor”?

Querida, depois de tantos anos na escola a aprender a falar bem e a comportar-me, aconteceu apaixonar-me por ti. Parece impossível que o comum dos mortais tenha tal paixão e, logo eu, fui perder-me assim que os meus olhos em ti tropeçaram.

            Quando, durante aquele passeio pelo campo te encontrei, o mundo parou, que criatura linda! Que coisinha fofa! Que deleite para meus olhos! O mundo parou, o meu coração disparou e o peito quase rebentou. No meio de tantas irmãs a tua alvura sobressaía, o teu pelo brilhava tal prata brilhando sob a luz do sol. Que beleza tamanha e eu, petrificado e estupidificado, contemplava-te enquanto te entretinhas na tua refeição matinal.

            Naquele mesmo instante desejei que fosses minha, levar-te para casa e acariciar-te até as minhas mãos doerem. Perder-me no meio da tua lã, descansar a minha cabeça nessa doce almofada de que nunca te separas, descansar o meu corpo no teu corpo quentinho e, amar-te como nunca ninguém amou um ser como tu.

            Nunca mais te deixarei voltar a ser uma entre muitas, num rebanho obediente e sem vontade própria. Serás a única do meu rebanho onde reinarás sobre o meu mundo. Nunca mais, outro alguém, passará a mão pelo teu pelo, nunca mais beberão do teu leite, será todo meu e nele saciarei toda a minha fome e o meu desejo.

            Agora anseio todas as noites de insónias pois aprendi o quanto é delicioso contar carneiros. Agora conto ovelhas. Tu, tu, tu… e mais tu. O sono não vem e eu continuo deliciado no meu contar. Tu, tu e sempre tu.

             Que amor tamanho, que perdição, como pode tal coisa acontecer-me? Escrevo esta carta apaixonada e sei que nunca a poderás ler. Sinto-me ridiculamente apaixonado a escrever esta ridícula carta de amor. Ridículo e… ridiculamente apaixonado.

Fortunata Fialho

Quero um poema…

Quero um poema…

Quero um poema que não chore, um poema que ria.

Quero um poema que cure, um poema feliz.

Um poema doçura, um poema inocência.

Quero acordar e rir como nunca ri,

Olhar um mundo sem sombra de dor.

Quero o poema inocente dos olhos de uma criança,

Luminoso como o sol que incendeia o ar,

Pálido e romântico como o luar.

Quero o mais belo poema jamais inventado,

Quero um poema orgasmo de amor,

Brincadeira de criança que sabe voar.

Quero… viver esse poema… sonhar com ele…

Nas suas mãos ser os versos, as estrofes…

E em êxtase… calmamente… rimar.

Quero um poema amor, um poema flor.

Viver nos olhos de um leitor, no sonho de um escritor.

Quero ser palavra… quero ser verso…

Quero ser o livro de poemas idolatrado,

Durante séculos nos lábios dos enamorados.

Quero um poema eterno de paz e felicidade imensa.

Quero um poema doce… terno… quente.

Ao mesmo tempo puro… inocente.

Um poema futuro, um poema esperança.

Um poema que iguale todas as gentes.

Um poema sem cor, um poema amor.

Fortunata Fialho

Mar, tranquilo mar.

Nostálgico caminha sem rumo.

Pensativo deixa-se levar.

O barulho da cidade está cada vez mais longe.

Caminha envolto em tristes pensamentos.

Finalmente a quietude… o silêncio.

Uma gaivota soa ao longe.

Uma leve e fresca maresia acaricia o seu rosto.

Uma lágrima, salgada, sulca-lhe a face.

Seus olhos tristes, azuis como o mar, perderam o brilho.

Subitamente, seus pés pisam o areal.

Grãos finos abafam os seus passos.

Cansado repousa no Areal.

Ao longe o mar compadece-se,

Movimenta-se em suaves ondas…

Num concerto mágico acalma-lhe as mágoas.

Suavemente movimenta as conchas

Depositando-as a seus pés.

Uma criança acerca-se e, pegando num búzio, diz:

-Escuta o som do mar, é lindo e doce.

O seu sorriso, brilhante, irradia felicidade.

Ingénua, pura, ternurenta… que linda criança!

O mar salpica-lhe o corpo e uma mãozinha acaricia a sua.

No seu rosto, triste, desenha-se um sorriso…

O azul dos seus olhos adquire o brilho do mar…

A tristeza desfaz-se como a espuma das ondas…

A tranquilidade acaricia- lhe o coração…

Feliz… brinca na praia, apanha conchas,

Escuta os búzios, chapinha na água …

E… envolto em maresia… regressa feliz.

Fortunata Fialho

O dia em que tudo ficou azul.

Podem não acreditar mas foi verdade, verdadinha.

Ontem choveu todo o dia e eu e a minha mana não pudemos brincar na rua.

Como nos apetecia ir brincar de esconde-esconde!

Quando a mamã nos mandou para a cama e nos deu um beijo de boas noites disse: sonhos azuis. Eu sorri e sonhei que brincava em castelos encantados sobre nuvens azuis.

Acordei cedo e quis ver se chovia, espreitei pela janela e o céu estava todo azulinho. Boa podemos brincar na rua!

Corri para o quarto da minha mana e acordei-a.

– Vamos brincar lá para fora.

Comemos à pressa e abrimos a porta.

Um pássaro azul pousou na nossa árvore. Estranho a árvore também era azul e estava cheiinha de laranjas azuis, iahc não deviam saber lá muito bem. Abelhas azuis pousavam nas flores azuis, engraçado ontem eram de muitas cores. Uma borboleta azul pousou no cabelo da mana.

A minha mana era morena mas agora o seu cabelo estava azul-marinho e o meu azul celeste. As nossas roupas… juro que quando estávamos a comer eram muito coloridas, agora eram todas azulinhas, confesso que estavam muito giras.

Espreitei pela janela e lá dentro tudo estava normal… estranho aqui até o orvalho era feito de gotinhas azuis muito brilhantes.

Durante todo o dia tudo esteve azul e nós brincámos que nem uns tontinhos fizemos bolos de lama azul, almocinhos azuis e sumos ainda mais azuis, até os meus carrinhos e as bonecas dela eram azul-turquesa.

Nessa noite dormimos muito bem e até os nossos sonhos foram azuis.

Quando acordámos corremos para a rua e estava tudo normal. Estranho, teria sonhado? Não o calendário da parede mostrava que era mesmo amanhã.

Será que quando contar na escola tenho de começar por era uma vez?

Fortunata Fialho

Desse “eu” tão completamente abstracto

O poeta e os outros poemas

Desse “eu” tão completamente abstracto

nascido que houvera o dia
por entre serras cansadas e mosto
catam o lume das lareiras e pão
esse cansaço tão dormente e tão só
a loucura por companhia e um cajado
um lápis rombudo e papel sujo…
curva-se o horizonte sobe o rio,
serpenteando os vales e as letras foscas que tecem a vida…

é na loucura que me encontro, amado o real
abstracto sou, prisioneiro do teu querer
ciclo vicioso da existência da vida, faço-me em nós
para que na morte exista

onde florir as macieiras e apodrecer as pêras
as abelhas irão dançar sob as flores dos morangueiros
ira chover e nascerão os cogumelos, esse fogo que arde
na cura do fumeiro que nos mata…
e tudo é tão abstractamente real…
tudo é tão duramente sofrido a cada sorriso…
e tu?
Desse “eu” tão completamente abstracto
Fazes da loucura a doce viagem…

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Um bom politico.

Nasceu numa pequena aldeia do interior e tinha uma ambição maior que o mundo. No meio era conhecido pela sua mente muito produtiva. Aquele Xico Aldrabas!…

Um dia resolveu tentar a sua sorte na grande capital. Depois de muitas portas se terem fechado por falta de habilitações, meteu-se na política e prosperou na vida. Era um encanto ouvi-lo discursar.Sábado o seu discurso deixou os seus conterrâneos boquiabertos.

– Caros contribuintes (fica sempre bem começar assim um discurso) como sabem, neste momento o país está cada vez com menos ricos e com muito menos pobres. A riqueza está bem dividida e em casa de todos existe abundância, nós abdicamos de aumentos salariais para que os pobres recebam um pouco mais…

Uma ovação soou no edifício e na taberna do Ti’Jaquim.

-Querem lá ver o homem, fala bem c’um caraças, até parece que a minha carteira ficou mais pesada. Ganda malandro!

Terminado o discurso o Xico, no seu modesto carro topo de gama, num modesto restaurante, de três estrelas Michelin, degustou um “modesto” repasto na companhia de sua companheira (a esposa estava na terra aguardando o seu regresso) e pernoitaram no simples hotel, de cinco estrelas, da cidade. O Xico tinha acabado de receber um aumento bem generoso no seu salário e festejava.

No dia seguinte humilde e honesto, como sempre, desculpou-se com sua esposa. A noite anterior tinha sido passada a trabalhar no novo orçamento de estado. Na missa portou-se como Deus manda e até apoiou, veementemente, o sermão do santo padre contra o adultério.

Na taberna do Ti’Jaquim, comentava-se o político honesto e diligente em que o Xico se tinha tornado. Afinal este filho da terra tinha entrado na linha e agora era um homem às direitas. Agora o Xico Aldrabas era o digníssimo Deputado Francisco Honesto!

Nasceu numa pequena aldeia do interior e tinha uma ambição maior que o mundo. No meio era conhecido pela sua mente muito produtiva. Aquele Xico Aldrabas!…

            Um dia resolveu tentar a sua sorte na grande capital. Depois de muitas portas se terem fechado por falta de habilitações, meteu-se na política e prosperou na vida. Era um encanto ouvi-lo discursar.

            Sábado o seu discurso deixou os seus conterrâneos boquiabertos.

– Caros contribuintes (fica sempre bem começar assim um discurso) como sabem, neste momento o país está cada vez com menos ricos e com muito menos pobres. A riqueza está bem dividida e em casa de todos existe abundância, nós abdicamos de aumentos salariais para que os pobres recebam um pouco mais…

Uma ovação soou no edifício e na taberna do Ti’Jaquim.

-Querem lá ver o homem, fala bem c’um caraças, até parece que a minha carteira ficou mais pesada. Ganda malandro!

Terminado o discurso o Xico, no seu modesto carro topo de gama, num modesto restaurante, de três estrelas Michelin, degustou um “modesto” repasto na companhia de sua companheira (a esposa estava na terra aguardando o seu regresso) e pernoitaram no simples hotel, de cinco estrelas, da cidade. O Xico tinha acabado de receber um aumento bem generoso no seu salário e festejava.

No dia seguinte humilde e honesto, como sempre, desculpou-se com sua esposa. A noite anterior tinha sido passada a trabalhar no novo orçamento de estado. Na missa portou-se como Deus manda e até apoiou, veementemente, o sermão do santo padre contra o adultério.

Na taberna do Ti’Jaquim, comentava-se o político honesto e diligente em que o Xico se tinha tornado. Afinal este filho da terra tinha entrado na linha e agora era um homem às direitas. Agora o Xico Aldrabas era o digníssimo Deputado Francisco Honesto!

Fortunata Fialho

Uma viagem.

Finalmente, depois de muitas tentativas para o retirar de casa, fizemos as malas e partimos rumo ao desconhecido.

Sem programa definido pois a caravana tinha tudo o que necessitávamos, partimos.

Adoramos passear sem rumo, partir á descoberta, ir onde a estrada nos levar, comer onde nos chegar a vontade e, sobretudo, absorver tudo o que nos rodeia. Parar na berma para trocar um beijo e uma carícia ou para conversar sobre o que nos der na real gana.

A estrada estava pouco movimentada o que nos proporcionou tempo e descontração para observar as paisagens. Foi um prazer desfrutar de vistas de cortar a respiração, respirar ar puro e sobretudo estarmos sós sem condicionantes.

Ao almoço desgostámos umas migas de cogumelos, simplesmente deliciosas, e ao jantar um cabrito assado no forno que fazia crescer água na boca. Cansados decidimos escolher um recanto paradisíaco, longe de olhares e ouvidos curiosos e indesejáveis, para pernoitarmos.

Depois de um banho de rio, onde os fatos de banho foram desnecessários e entre brincadeiras deliciosas de amantes, o tempo parecia ter parado para nós o podermos aproveitar. De corpos limpos e refrescados fomos para a cama. Dormir era o que menos nos interessava, depois de tantos dias a tentar que os filhos não nos escutassem, pudemos amar-nos sem limites e a entrega foi total, que comprovem os animaizinhos que nos proporcionaram a música de fundo.  

Com os corpos cansados e saciados só nos restaram forças para um abraço apertado e um beijo doce e suave. Abraçados adormecemos como uns anjinhos. Bom, anjinhos talvez não…

Já o sol ia alto quando acordámos. Envoltos em todo aquele paraíso tomámos o pequeno-almoço e voltámos a partir á descoberta.

Este foi o primeiro dia de uns quantos que lhe sucederam, cada um melhor e mais intenso que o anterior. 

Fortunata Fialho

Físicos afirmam ter encontrado ainda mais evidências de uma nova força da natureza, “A Quinta Força do Universo”

Casual

8259/2010-2019

Físicos afirmam ter encontrado ainda mais evidências de uma nova força da natureza

MIKE MCRAE20 NOV 2019
Tudo em nosso universo é mantido unido ou separado por quatro forças fundamentais: gravidade, eletromagnetismo e duas interações nucleares. Os físicos agora acham que viram as ações de uma quinta força física emergindo de um átomo de hélio.

Não é a primeira vez que os pesquisadores afirmam ter tido um vislumbre disso também. Alguns anos atrás, eles viram isso na decadência de um isótopo de berílio. Agora, a mesma equipe viu um segundo exemplo da força misteriosa em jogo – e a partícula que eles acham que está carregando, que eles estão chamando de X17.

Se a descoberta for confirmada, não apenas aprender mais sobre o X17 nos permitirá entender melhor as forças que governam nosso Universo, mas também ajudar os cientistas a resolver o problema da matéria escura de uma vez…

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“Simplesmente… Histórias”

Façam com as palavras aquilo que quiserem, desfaçam-nas:

Separem-nas letra a letra e joguem, brinquem, façam-nas dançar.

Criem novas palavras, palavras de amor e alegria, palavras sãs.

Jamais escrevam a dor e o sofrimento, o ódio e a intolerância.

Escrevam palavras lindas, brilhantes como o sol.

Que brotem como as mais lindas flores num prado de melodia.

Que soem, cristalinas, como o riso feliz das crianças.

Façam com as palavras o que quiserem, esgrimem-nas como adagas.

Deem golpes de frases, decepem a ignorância, disparem conhecimento.

Com um arsenal de letras disparem palavras em rajadas de linhas,

Deixem correr rios de ideias, mares de entendimento.

Derrotem mundos de ignorância, criem países de sábios,

Façam surgir impérios de puros e bons sentimentos.

Não deixem morrer as palavras, curem-nas e estimem-nas.

A sua beleza é imensa e o seu poder incalculável.

Lancem-nas no leito das páginas e misturem-nas.

Elas vão revelar poderes imensos, magias incríveis.

Surgirão histórias, livros, estantes, bibliotecas…

Conhecimentos novos, puros, imparciais e assim…

Poderemos voltar a reflectir sem limites, sem tabus, sem censura.

Fortunata Fialho