Preguiça.

Preguiça

Dizem que a preguiça morreu de sede com o focinho dentro de água,

Coitada… de preguiça nem sequer abriu a boca para beber.

A preguiça é a pior conselheira… com preguiça não se formou.

Nunca construiu nada novo… infelizmente dava muito trabalho.

Nunca cozinhou… ligar o fogão implicava o braço erguer.

Não tomou banho pois esfregar-se era muito laborioso.

Esperou a chuva para se limpar… e alguma sujidade a chuva levou.

A preguiça nunca se arranjou pois despir o pijama lhe era penoso.

Pobre preguiça, nunca casou, para responder sim tinha que falar.

O desgraçado do pretendente cansou-se de esperar e…

Outro alguém decidiu procurar.

Um dia decidiu viajar… ao primeiro passo tombou,

O esforço era tão hercúleo que logo desistiu.

Preguiça nunca brincou. Um dia tentou e abrir a porta logo a cansou.

Pensou em chamar algum amigo… não tinha nenhum.

A casa nunca limpou pois só pensar nisso era atroz.

A preguiça nunca cantou… decorar as letras recusou.

A preguiça tem fome e sede mas nunca ninguém a serviu.

Os dias passaram e a preguiça um dia adoeceu.

Quis pedir ajuda mas não se moveu.

Com preguiça de gritar ninguém se apercebeu.

De inatividade a preguiça morreu… coitada também nunca viveu.

Fortunata Fialho

Desejo

Desejo

Num tempo que já passou, uma menina sonhava.

Sonhava que um dia deixaria de estar sozinha.

Antes de dormir um desejo formulava:

Quero um mano ou uma mana, não quero continuar só,

O mundo é bem melhor quando se tem alguém para brincar.

O tempo passou e o sonho não se concretizou.

O pedido mudava, agora o desejo era ter alguém para cuidar.

Por vezes, quando queremos muito, os sonhos realizam-se.

Um dia, perto do Natal, um pequenino ser entrou na sua casa.

Pequenino, reguila,… lindo.

A menina que sonhava não queria acreditar…

Sem conseguir deixar de sorrir, o pequenino ser mimava.

Todo o tempo era pouco para o poder acariciar.

E o tempo passou, a pequenino ser cresceu,

A menina ficou mulher, mudou de casa e foi mãe.

E aquele ser pequenino?

Aquele ser pequenino cresceu mas nunca deixa de ser o seu sonho.

A menina sonhou novos sonhos, cada um diferente do primeiro.

Mas e o ser pequenino?

O ser pequenino eras tu minha irmã e a menininha era eu.

Foste o meu primeiro grande sonho,

Foste tu que chegaste num Natal antecipado.

Muitos parabéns meu desejo sonhado.

Fortunata Fialho

Perdida “Quero um poema…”

Perdida

Pelos campos verdejantes da vida me perdi.

Envolta em doce aroma caminhei sem rumo.

Vestida de pétalas e seda pude sentir.

Na sombra de frondosas árvores repousei.

Ao doce e suave ondular do vento adormeci.

Perdida do mundo me entreguei.

Um toque de seda perfumado de jasmim,

Percorreu a minha pele… envolvente… doce…

Gotas de orvalho beijam meus lábios.

A fresca brisa matinal acaricia o meu cabelo.

Suaves pétalas beijam os meus olhos.

O ruido envolvente sussurra ao meu ouvido.

Promete prazeres sem fim… o êxtase em mim.

Lentamente perco-me em ti.

Perdida num mundo de sensações…

Perdida de prazer… fecho os olhos.

O corpo agita-se ao sabor do vento e…

Lentamente a brisa passou a tempestade e…

Explodiu em mil fogos incandescentes.

Corpo cansado… pleno… indolente.

Envolta em ternura, sentindo-te em mim.

Finalmente… perdida de cansaço adormeci…

Fortunata Fialho

As estrelas brilham

As estrelas brilham

Olho pela janela e o brilho das estrelas convida ao sonho.

Lá fora a noite envolve tudo em seu redor convidando os amantes.

Estou só! As horas passam e, finalmente a porta abre-se.

Sinto a tua presença e o meu rosto ilumina-se.

Continuo contemplando as estrelas e, ansiosamente espero.

 O dia terminou e agora nada mais importa, o hoje já se foi e o amanhã ainda tarda.

O agora é só nosso e nada mais importa. Vem… faz o tempo parar.

As tuas mãos tocam os meus ombros e, lentamente, a roupa desliza pelo meu corpo.

O frio da noite mistura-se com o calor do teu corpo e estremeço.

Já não sinto frio, o calor invade a minha pele e… é tão bom.

Fecho os olhos e… sinto. Sinto o suave toque da tua pele… a carícia do teu respirar.

Quero mover-me e não consigo, o meu corpo recusa qualquer movimento.

O corpo deixou de ser meu, ficou preso no teu toque e no meu desejo.

Lentamente rodo e envolvo-te num terno abraço.

Tudo cessa. Não… tudo gira como um carrossel de emoções.

Não sei se vivo ou… se sonho. Devo viver… pareço respirar.

O meu corpo físico desaparece, no seu lugar fica um mundo de sensações.

Todo o teu corpo… o nosso corpo vibra e a entrega é total.

Só sinto, não penso, sou como um rio revolto em busca do mar.

O calor dos teus lábios descobre os meus como uma corrente de emoções.

Docemente os nossos corpos unem-se, fundem-se, tornam-se um só.

Ondas de emoção agitam o oceano dos nossos corpos,

Explodem na nossa praia como um tsunami avassalador.

O quarto tornou-se mundo e o nosso mundo universo.

Nos teus braços… nos meus braços… nos nossos braços, surge o universo.

O nosso universo cresce, expande-se e… a vida acontece.

Já não consigo ver as estrelas… as estrelas somos nós e… brilhamos.

Lentamente o universo acalma-se e o mundo retoma a sua forma.

As ondas aquietam-se e os corpos repousam.

Envoltos nos nossos lençóis, abraçados repousamos.

Eu… sorriu e… contemplo o brilho das estrelas.

Fortunata Fialho

Em “Simplesmente… Histórias”

escreversonhar

Era o medo o que nos vinha acariciar
naquele banco de jardim

As tuas palavras, cortantes como
punhais, dilaceravam mortalmente:

‘’Recebi ordens, tenho de partir,
embarco já amanhã.’’

As lágrimas queimavam-nos o rosto… as
vozes silenciaram-se.

Olhámo-nos intensa e demoradamente…
quem sabe se pela última vez.

Tantos voltavam envoltos em
mortalhas, frios e inertes… corpos sem vida.

Que medo devastador… abraçámo-nos e,
em silêncio caminhámos.

Era a nossa última noite, uma noite
que teria de ser eterna, perfeita… inesquecível.

Nessa noite o mundo parou, as roupas
caíram e os corpos fundiram-se.

Nunca os nossos sentidos foram tão
intensos… nunca fomos tão plenos.

Cada segundo valia uma vida, cada
carícia penetrava mais fundo.

Céus, como os nossos corpos
encaixavam envoltos na mais sublime das paixões.

A tua pele era a minha pele, o teu
suor o meu suor, a tua carne a minha carne.

A manhã chegou e encontrou-nos
envoltos, um…

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Criança poema.

Criança poema.

            Um choro, ténue e desesperado, soa num quarto qualquer. Poema de vida em construção. Um abrir de olhos que apreende um mundo novo cheio de luz.

            Chora pela perda da segurança do ventre de sua mãe e, quem sabe se da dor sentida durante o seu nascimento.

            Num mundo desconhecido, inicia o seu percurso. Só… não, com a ajuda dos que o amam, escolhe o seu caminho. Nascer foi o início de uma, esperemos, longa caminhada.

            Pode haver poema mais belo que o riso de uma criança? Cristalino, puro, inocente, contagia todos ao seu redor. Quem nunca riu ao escutar o riso solto de uma criança? Eu nunca resisto a fazer-lhe coro. Remédio infalível que cura toda a tristeza, bálsamo que torna a vida bem mais suave e feliz.

            Envolta em sonhos onde imperam príncipes e princesas, cavalos brancos, seres mágicos… desenvolve-se. Dona de poderes imensos voa como um pássaro, nada com as sereias e corre como o vento. No seu mundo o bem vence sempre o mal, os bons são fortes e invencíveis e os maus caiem como folhas secas ao sabor do vento.

            Neste mundo mágico de histórias de encantar, cresce… escrevendo múltiplas linhas, doces e puras, no livro em branco da sua vida.

            Como eu recordo o início de vida os meus dois poemas, dos seus olhinhos brilhantes, das suas perguntas ingénuas… e até das suas maldades sem malícia. Crianças poema nascidas do amor que cresceram a escutar histórias e acreditando serem reais.

            Deambulo pelos caminhos e cruzo-me com tantos poemas em construção. Pelo ar ecoam gargalhadas e correrias sem fim. Lutas fingidas e ternuras imensas. Livros em branco com poucas páginas preenchidas, crianças poema em início de vida.

Fortunata Fialho

E se…

E se…

E se o mundo fosse um sonho sonhado por uma criança?

Todos os dias mudava conforme o seu desejo.

Num dia teria Dragões e Ogres em luta eterna,

Noutro, princesas e príncipes em cavalos alados.

Por vezes campos floridos repletos de fadas,

Outras, palco de guerras intergalácticas

Onde a humanidade sempre acaba vencendo.

E se nesta vida não existissem guerras?

Ninguém lucraria com armas nem intrigas,

Não haveria raças, todos seriam iguais.

Não existiriam credos nem deuses, todos acreditariam na bondade.

Todos dariam as mãos numa partilha constante.

E se não existisse poluição?

Os rios e os mares só transportaram vida,

As águas permaneceriam cristalinas e puras,

Os campos seriam para sempre verdejantes e coloridos de mil cores.

Os animais não adoeceram nem se extinguiram,

Os insetos não picariam, as borboletas seriam ainda mais belas,

Os pássaros treinaram em sinfonia, cobertos de penas coloridas.

E se… todos quisessem… o mundo seria um lugar bem melhor.

Fortunata Fialho

Feliz dia da Poesia.

escreversonhar

E como dança.

No fundo da minha alma as letras
agitam-se… enlaçam-se…

Formam palavras… frases… parágrafos
e… soltam-se.

Numa erupção épica explodem e…
gritam.

Caem como cinzas doces, esvoaçantes e
melódicas, envolvendo-nos.

Os seus gritos, melódicos e ritmados,
apelam ao movimento.

Uma letra dança e outras agitam-se,
subitamente abraçam-se, tornam-se palavras.

Palavras dançantes em frases,
melódicas e sentidas… sonhadas.

E dançam. Juntam-se às centenas…
milhares e rimam… rodopiam.

Doces poemas… sons de alma… desejos
contidos, surgem.

Poesias dançantes ao som de sonhos e
amores vividos ou… sonhados.

Nesta tela, os seus paços, imprimem
e… imortalizam-se.

Que terno bailado! Que doce melodia!
Minha poesia.

Penso… sinto… escrevo e as palavras
dançam e criam vida.

E como dançam!

A minha poesia é o movimento da minha
alma, a dança dos meus sonhos.

Em mim, o sonho toma a forma de
palavras e… escrevo.

No espaço em branco as palavras
surgem, movem-se e…

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Tempo de bonança.

Tempo de bonança

Tenho no peito a esperança nos tempos que aí vêm.

 O povo diz: depois da tempestade virá a bonança.

Acredito que tudo à minha volta terá de melhorar,

Que a alegria nos voltará a visitar,

Que as pessoas se irão abraçar,

Que as crianças poderão livremente voltar a brincar.

No futuro não muito distante choverão sorrisos,

 As fronteiras se abrirão e as pessoas se reencontrarão.

Lentamente a tempestade passará e o sol brilhará.

Tempos de bonança cuidarão de todos nós,

E na sua calmaria o céu será mais azul,

Os campos mais verdejantes e os mares mais calmos.

O longe voltará e tornar-se perto,

Sempre que se queira estaremos com quem amamos.

Os velhotes deixarão de estar sozinhos,

As crianças verão rostos e verdadeiros sorrisos.

Poderemos passear nas ruas sem medos,

Sorrir para quem passa sem nos afastarmos.

As ruas encher-se-ão de pessoas passeando,

Os jardins de casais enamorados trocando promessas de amor.

De sair à rua ninguém mais terá medo.

Sei que tempos de bonança virão e…

Por longos tempos não nos deixarão.

Fortunata Fialho

Livre

Livre

Quero ser livre, voar como o vento e alcançar as estrelas.

Quero ser como um pássaro que foge de uma gaiola,

Esvoaçar para o desconhecido sem olhar para trás.

Quero gritar bem alto o que me vai no coração,

Fazer soar a minha voz sem que a abafem ou censurem.

Caminharei sem objetivo em caminhos sem fim,

Navegarei os mares sem medo das tempestades.

Escreverei tudo o que me vem na alma

Cobrirei páginas e mais páginas de sentimentos,

Contarei histórias de almas livres de mordaça,

Darei voz a todos aqueles a quem a tiraram,

Falarei sempre… ninguém ouse calar-me.

Quero ser livre e apregoar a força do conhecimento,

Quero aprender tudo o que conseguir.

Não me escondam os livros, não calem as histórias…

Deixem-nas contagiar todos os que as ouçam.

Soltem o conhecimento… com ele virá liberdade.

Peçam ao vento que solte as palavras escritas,

Que as grite em todos os lugares

Que em todos os ouvidos ecoe LIBERDADE.

Fortunata Fialho