– Mãe socorro. Tanto medo! Que barulho assustador! Tantas luzes… não consigo ver… dói tanto…. Pega na minha mão. Quando te sinto tenho menos medo. Pega-me ao colo e abraça-me forte, diz que vai passar. Faz calar todo este barulho… diz que é um pesadelo… ajuda-me a acordar. Mãe dói tanto… porque são os homens tão maus?
Sobrevivi, minha mãe deu a sua vida para me proteger. Abraçou-me e …meu Deus…o sangue foi mais dela do que meu. Sobrevivi mas… com ela morri um pouco também.
Olho para o meu filho e recordo tudo, o noticiário mostra o êxodo de tanta gente. Fogem de uma guerra, mais uma guerra ignóbil, tentam proteger os seus filhos. Muitos perdem a vida e nem sempre os filhos lhes sobrevivem. Olho o meu filho e prometo-lhe proteção. Será que posso cumprir? Tanto ódio e tanto terror! Será que não têm filhos também?
As imagens sucedem-se e ele dorme. Crianças afogadas e… o meu dorme profunda e serenamente. Pouso-lhe a mão na cabeça e acaricio os seus cabelos. No meu rosto as lágrimas fluem… como gostava de os proteger também.
Espreguiçou-se, vai acordar. Mudo de canal. Não necessita de ver tanto horror.
Olha para mim e sorri, salta da cama e pendura-se no meu pescoço.
– Estás triste papá? Olha vou buscar o sol para ti, ou preferes a lua. Ontem fiz um desenho dos três, tu eu e a mamã. Sabes escrevi uma história. Tu eras o rei e fazias fugir todos os maus, e davas doces aos bons. Eramos felizes e nunca ninguém chorava. Sabes eu chorei, cai e fiz um dodói, mas tu vieste e o dodói também fugiu, afinal ele era mau e não podia ficar. Sabes pai tu és o meu herói e contigo eu não tenho medo de nada.
Fortunata Fialho